COVID-19

Mortes por Covid-19 crescem 50% em 12 dias e já passam de 30 mil no Brasil

País agora é um dos quatro no mundo a registrar mais de 30 mil óbitos pelo novo coronavírus; flexibilização da quarentena, clima frio e subnotificação explicam avanço fatal da doença

Com 31.199 mortes confirmadas pela Covid-19, o Brasil se juntou nesta terça-feira (2) aos Estados Unidos, Reino Unido e Itália. No entanto, a velocidade na qual a trágica marca foi atingida nesses quatro países é o que chama atenção.

O Brasil demorou 54 dias para atingir 10 mil mortes relacionadas ao novo coronavírus. Passados só mais 12 dias, o país dobrou a quantidade de registros, chegando a 20 mil mortes e, agora, em apenas 12 dias, o país atingiu a marca de 30 mil óbitos por Covid-19.

Levamos só um dia a mais que a Itália - 78 no total para ir do primeiro óbito as 30 mil mortes. No entanto, o país europeu demorou bem mais tempo do que nós para cruzar o caminho das 20 mil mortes até as 30 mil. Foram 26 dias.

O Reino Unido demorou 16 dias para passar do dia em que completou 20 mil mortes e atingir a marca de 30 mil. Só os Estados Unidos foram mais rápidos nessa trágica disputa, levando só cinco dias para passar dos 20 mil para 30 mil óbitos pela Covid-19. Isso porque o país governado por Donald Trump chegou a registrar 4.928 mortes um um único dia.

Em suma, no intervalo em que a Itália registrou 10 mil novas mortes pelo novo coronavírus, o Brasil teve mais que o dobro de óbitos pela doença (21 mil mortes). Tal comparação mostra os efeitos do lockdown na Itália e a inclinação ascendente da curva da Covid-19 no Brasil, o que deve fazer com que demoremos ainda algumas semanas até a queda do número de casos. 

Flexibilização precoce das quarentenas

De acordo com o médico infectologista Leandro Curi, a aceleração maior do Brasil na curva de mortes pela Covid-19 pode ter sido reflexo de uma flexibilização prematura da quarentena em vários Estados do país. 

“A flexibilização do isolamento com certeza influi muito nisso. No momento em que a gente tem uma curva ascendente ainda sem chegar a projeção de chegar naquele pico, apesar de serem realidades diferentes em cada Estado, a gente flexibilizou, a gente abriu, a gente foi mais permissivo e talvez ainda num momento difícil da pandemia. Eu vejo isso com bastante cautela, não sei exatamente se concordo como essa flexibilização tão grande que a gente vê aí, locais abrindo shoppings etc”, analisa Curi.

Clima frio e subnotificação fatal

Além da flexibilização do isolamento social, talvez antes da hora ideal segundo o especialista, a chegada do clima frio e seco em várias regiões do Brasil também contribui para o aumento repentino dos casos da Covid-19.

“A gente também observa uma queda de temperatura, o aumento de vento e diminuição da umidade do ar, o que justifica também um aumento de casos tão rapidamente. Quando tem aumento da circulação de pessoas, isso facilita mais a circulação dos vírus respiratórios. Acredito que isso também seja uma das respostas para esse crescimento tão rápido comparado a outros países”, pontua o infectologista, lembrando que no hemisfério Norte se aproxima a chegada do verão, que naturalmente dificulta a circulação de vírus respiratórios.

Segundo Curi, a falta de testagem ampla do novo coronavírus no Brasil é outro agravante que tem levado o país a um enfrentamento ineficaz da doença.

“É importante bater nessa tecla sempre. Não há número de testes suficientes. Então, a gente acaba não controlando e não sabendo a real estatística dos infectados. Com isso, o número de mortos são esses absurdos 30 mil de agora e o de infectados sintomáticos ou não pode ser até 10, 15, 20 vezes maior”, conclui o infectologista.

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