Doação

Município de Iguatama recebe doação do "Sobrado", importante construção que conta um pouco da história da cidade

O Município de Iguatama recebeu a doação de uma importante construção antiga da cidade, da família de Francisco Garcia de Carvalho (Face) e Amandina Magalhães de Carvalho (Dina). Os atuais donos e doadores do bem ao município são Laudelina Garcia (Tita), Sylvia e Heitor e os sobrinhos, Bruno, Alexandre, Cecília e Cláudio.

O Sobrado situado na rua 4, no Centro da cidade é uma construção antiga, tem as características austeras e despojadas da arquitetura colonial mineira, apresentando estrutura em madeira, divisões internas em pau a pique e interessante estrutura de telhado sustentado por cumeeiras, espigões, pontaletes e caibros roliços estruturantes, todos em peças originais. O telhado em telhas coloniais tem 80% de telhas originais tendo a reposição sido feita com telhas antigas da fazenda e com procedência da mesma olaria. Leva nas três fachadas principais um beiral de 50 centímetros e singelos capitéis nos principais pilares da fachada. 

Foi construído como residência para Domingos Gonçalves de Carvalho, fazendeiro e um dos donos da fazenda da Tapada. Domingos tinha a intenção de construir uma casa “como as de Ouro Preto”, assobradadas e com vidraças, iniciou a construção em data imprecisa, na década de 1860, mas morreu antes de concluí-la.

Seu cunhado Capitão José Garcia Pereira foi quem acabou de concluir a construção.

Sobrado da rua 4 (Foto: Iguatama Agora)

Muitas pessoas passaram pelo antigo, porém ainda exuberante Sobrado, que teve variadas funções durante os anos. Já foi casa paroquial e residência do Padre José Timotheo Garcia de Carvalho, de 1890 a 1930. Como não tinha filhos a parte dele após seu falecimento foi dividida entre os irmãos.

Na época que foi casa paroquial era a principal edificação do arraial Porto Real, recebeu hospedes ilustres como bispos e missionários em visitas pastorais. Por duas ocasiões recebeu a visita pastoral de Dom Silvério Gomes Pimenta, arcebispo de Mariana, que à noite pregava ao povo de Porto Real de uma das janelas do sobrado.

Residiam com o Padre José Timotheo sua mãe Maria Cândida da Silveira, e irmãos. Mais tarde sua cunhada Francisca de Carvalho, e os sobrinhos órfãos também foram morar no sobrado. 

A primeira escola pública foi criada por iniciativa do Capitão José Garcia Pereira, em 1878, e regida por sua filha Maria Cândida da Silveira, funcionando no andar térreo do sobrado. Era dirigida só ao sexo feminino.

Em 1891 foi iniciado o ensino, também para o sexo masculino, dirigido inicialmente por Domingos Garcia de Carvalho e depois por Severiano Garcia de Carvalho ambos filhos de Dona Maria Cândida.

O sobrado durante um período abrigou varias instituições religiosas e seculares.

Ali era ministrado catecismo para as crianças e feita sua preparação para a primeira comunhão. Eram feitos os ensaios do coro da igreja e da banda de música que existia desde 1881.

Essa banda que abrilhantava ofícios religiosos e sessões cívicas tinha como regente: José Sabino de Carvalho, José Jardim, Antônio Garcia de Carvalho e Dr. José Antônio de Paula Carvalho (neto de Maria Cândida da Silveira, que nasceu e viveu no Sobrado, formado em medicina e patrono da Escola Paula Carvalho. Conheça sua biografia clique aqui).

Em 31 dezembro de 1943 (decreto-lei 1.058) Porto Real consegue sua autonomia administrativa e passa a se chamar Iguatama.

No Sobrado funcionou ainda a primeira Agência dos Correios, até aproximadamente 1946, sendo agente Dona Francisca Carvalho.

As instalações comerciais do primeiro pavimento passaram então a ser alugadas, primeiro para Agência da Minas Caixa, depois até 2002 para um armazém de secos e molhados “Armazém Rodrigues” (Armazém do Toizinho).

Até 1998 residiam no sobrado às professoras Dona Didi (Maria Cândida de Carvalho) e Dona Francisquinha (Francisca Garcia de Carvalho) com falecimento de Dona Didi em 2002 e a mudança do armazém de Antônio Rodrigues (Toizinho), para o bairro Vila Nova, o casarão foi fechado.

A esquerda Dona Didi (em memória), ao meio Dona Maria de Lourdes (Nhazinha), filha de José Antônio de Paula Carvalho e a direita Dona Francisquinha (em memória).

O Sobrado foi tombado e foi feito grande esforço junto ao IEPHA para algum apoio financeiro para sua preservação.

Segundo os herdeiros na época a prefeitura municipal de Iguatama recebeu recursos do ICMS cultural pelo tombamento, mas não houve apoio especifico a restauração da casa.

Eles continuaram tentando recursos para conseguir restaurar o Sobrado, em 1997 tentaram o recurso ao Fundo Nacional de Cultura, mas não deu resultado.

Após muitas tentativas sem sucesso, os herdeiros decidiram por doar o bem, tão precioso e de tantas histórias ao município iguatamense.

 

Bibliografia: trechos de um texto feito por Laudelina Garcia, tirado do histórico do Sobrado, que se apoia em pesquisas e documentos do Cartório do Registro de Imóveis de Formiga, em relatos orais de descendentes dos construtores, principalmente relatos da Professora Maria Cândida de Carvalho (Dona Didi). 

Renata Coutinho Kascher

GRADUADA EM COMUNICAÇÃO SOCIAL, GESTÃO DA COMUNICAÇÃO INTEGRADA: HABILITAÇÃO EM JORNALISMO, PELA PUC MINAS. 
EXPERIÊNCIA DE MONITORIA NA ÁREA DE JORNALISMO, LOCUÇÃO, EDIÇÃO E GRAVAÇÃO DE PROPAGANDA. 
SÓCIA PROPRIETÁRIA DO SITE IGUATAMA AGORA.
CASADA, MÃE DE DOIS FILHOS, ENGAJADA NAS CAUSAS FILANTRÓPICAS, PROTETORA DOS ANIMAIS. 
UMA DAS FUNDADORAS DA ASSOCIAÇÃO PROTETORA DOS ANIMAIS, QUATRO PATAS DE AMOR, DE IGUATAMA-MG.
PRATICANTE E APAIXONADA POR ESPORTES, EMPENHADA EM FAZER UM JORNALISMO TRANSPARENTE, DE BOA QUALIDADE E INFORMATIVO.

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